Por Talita Montysuma
Assisti esses tempos o filme “O livro dos prazeres”, a adaptação do livro da Clarice Lispector, que dentro da minha cadeia simbólica me colocou em um turbilhão de emoções, pensamentos e medos, onde ali, em silêncio, mergulhada tão profundamente na escuridão dos meus pensamentos e no silêncio da minha alma, onde só consigo ouvir o barulho do meu corpo lutando por homeostase, buscando por um suplício de paz. Sabe aquele barulho do corpo trabalhando? Acho que é pra me lembrar que estou viva a pesar da alma estar em silêncio.
Toda vez que venho pra esse lugar meus ouvidos doem e/ou entopem, meu corpo falando "para de ouvir o fora, ouça dentro". Ouvir a ignorância de mim mesma, o que eu não quero ouvir sobre mim, o medo de não sustentar meu vazio ou pior, o medo de não encontrar ninguém que tenha a coragem de me ajudar a sustentar esse vazio sem sucumbir ou me destruir. Eu grito e é uma piada que sai pela minha boca uma vez que não me permito chorar.
Chorar é a limpeza, por isso que vivo suja, só me permito chorar em ocasiões onde consigo disfarçar meu vazio (batizados, casamentos e afins), fora isso são piadas sem graça, não pela sua síntese, mas pela sua essência. Quando choro, e se choro, nunca serão suficientes para verdejar o verde do violinista. E será disso que tenho medo? Do verde ou do solo árido? Será que é por isso que sempre estou buscando vida?
No coração de pedra onde penso que nada pode feri-lo, no fundo a ideia é de uma busca para ser furado. Como a água que vai pacientemente abrindo caminhos, o choro vai furando a pedra. Não queria ser pedra, queria ser água, mas não água parada, queria ser água que corre errante sem barreira, sem medo, com vida dentro e fora, que mesmo na profundeza escura ainda há vida.
Hoje fiquei sabendo que o coração é o único (não tenho certeza, mas pra mim é) músculo que não se regenera, saber disso me deu uma angústia danada. Chorei. Chorei de medo. Chorei para tentar dar vida ao coração de pedra, o pavor de não conseguir regenerar meu coração me fez pensar sobre a necessidade do amor. Por isso que todo sentido, como a morte que dá sentido à vida, o desamor ou o medo dele dão sentido ao amor. Será por isso que não consigo deixar que alguém me ame? Ouvi dizer que só ama quem saber ser amado.
Acho que é aí que está meu calcanhar, na ilusão que nas milhas de pseudoamor, só amo o corpo e nunca a alma, mas seria tarde? No filme, Lóri teve a segunda chance quando conhece Ulisses, um professor de filosofia, – e olha a ironia – aprende a amar depois de uma longa jornada dentro si, uma busca do Eu ao Outro, e guiada por Ulisses, que na mitologia é aquele sábio.
Começo dizendo que o cansaço sobre a ignorância que tenho sobre mim me faz entupir os ouvidos para que eu me escute. Achava que isso era uma maldição, mas hoje penso que Isso é uma dádiva, e como toda graça traz sua responsabilidade e seu preço, ainda estou tentando descobrir qual preço estou disposta a pagar pelo amor. Mas começo a seguir meu caminho e, por ser um tema caro pra mim, fico por aqui. Um texto curto e sem final, talvez com um ponto continuando.
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